Algum tempo atrás, criei um clube do livro viajante com alguns amigos leitores que são apoiadores do podcast RPGuaxa, mas isso eu conto em outro momento. O que vim falar hoje é que, graças a esse grupo de pessoas incríveis, eu tive a chance de ler esse livro com esse título enorme: A vida e as mortes de Severino olho de dendê, que agora vou chamar apenas de Severino olho de dendê.
Mas sobre o que é esse livro?
Essa é a grande questão, não é mesmo? Bom, Severino olho de dendê se classifica como uma ópera espacial, e eu concordo super com essa denominação. Eu encaixei ele também como ficção científica regionalista. Ele tem muitas referências nordestinas que eu, como garota do interior de São Paulo, fiquei muitas vezes perdidas, mas mais vezes ainda, feliz em encontrar um livro com tanta coisa bacana de se ler, de se conhecer.
Severino, nosso querido protagonista, é um baiano, negro, cheio das manhas, e que trabalha basicamente como caçador de recompensar. O olho de dendê do título é um dispositivo tecnológico que ele "ganhou" quando sobreviveu a um acidente onde perdeu um olho, um braço e algo que não vou falar para não ser spoiler. Com o tempo, Severino descobriu que, se colocar um pouco de sangue de alguém que morreu em um dispositivo em seu braço, e consumir uma planta específica, através de seu olho de dendê ele pode ver os últimos minutos de vida da pessoa, o que é muito útil em sua profissão e acaba ajudando até a solucionar casos que são beco sem saída. Incrível, né?
"Por mais que temesse o abismo que era o grande silêncio, havia muito pouco que o prendesse a vida."
O óleo de dendê se tornou o bem mais precioso nessa história. Ele é utilizado, além do olho do protagonista, como combustível para que as naves possam fazer viagens interplanetárias. Achei incrível a forma como o autor colocou o nordeste e a cultura nordestina como um todo no topo da pirâmide nessa história. Tudo sobre o nordeste meio que se torna uma grande cultura intergalática.
Severino tem um melhor amigo de outra raça alienígena, já que nesse livro, dominamos as viagem intergaláticas graças uma uma dobra no espaço tempo, onde podemos realizar essas viagem em questão de dias. Seu amigo, Bonfim, pra mim parece o tio cabeludo da família Adams, mas com muitas muitas fitinhas de nosso Senhor do Bonfim amarradas entre a cabeleira. Esses são apenas dois personagens dos muitos que conhecemos aqui.
"Viver é caro como uma porra. Custa a vida todinha."
Temos uma capivara geneticamente modificada (minha favorita), uma paladina do sertão (guerreira vingadora contra o sistema), uma robô com missão de proteger essa paladina e muitos outros personagens que vão aparecendo ao longo da história, cada qual com suas características, raças, pensamentos e metáforas para o nosso mundo. Queria falar de todos eles, mas honestamente, quero que leiam sem saber quem eles são, que vão descobrindo aos pouquinhos quem são e o que você sente quando eles aparecem. A narração favorece muito esses personagens ao variar o ponto de vista da narração, assim temos a chance de acompanhar cada um deles individualmente, sem precisar ficar presos a apenas um ponto de vista.
"Sou uma guerreira. Não começo combates, eu chego para pôr fim neles."
Em minha humilde opinião, eu classifico esse livro como uma história de personagem. Eles poderiam estar na Terra, numa mesa de bar, conversando amenidades e ainda assim seria incrível, teriam diálogos primorosos, porém a forma como Ian junta todos esses seres tão diferentes com maestria. Eles tem suas semelhanças, diferenças, amores, desamores, momentos divertidos, de discordância... Ele nos oferece o pacote completo.
Eu disse que não iria falar dos personagens, porém eu PRECISO falar sobre a Antonieta, nossa capivara humanoide apaixonada por livro. Ela é uma personagem que trabalha para a "polícia local", podemos assim dizer. Ela passa toda sua trajetória buscando fazer o que é certo, para receber o reconhecimento que tanto merece, porém, por ser considerada diferente (e de fato o ser), ela nunca alcança a posição que tanto almeja e sabe que merece, e nós descobrimos que ela merece de fato. Antonieta, a meu ver, é a perfeita representação de pessoas que tem que lutar para poder existir, talvez um grande paralelo para pessoas trans (aqui eu não tenho lugar de fala, então não irei transcorrer). Ela é uma apaixonada por livros e histórias e se utiliza de várias frases de obras que ama para transmitir os sentimentos para os quais ela não consegue encontrar suas próprias palavras e achei isso sensacional. Quantas vezes é mais fácil utilizarmos as palavras de outras pessoas ao invés de nossas próprias? Enfim, melhor personagem.
"Ela gostava dos dias melancólicos, quando a alma aceitava visitar a tristeza apenas pela saudade de chorar."
O autor consegue nos transportar através desses planetas com esses personagens, nos faz acreditar neles, abraçar sua causa, querer lutar ao lado deles. Isso é lindo na ficção, mas me peguei pensando: na vida real, se fosse necessário lutar, eu iria? E ainda agora, quase um mês após a finalização da leitura, ainda não sei a resposta. Eu gosto da segurança, e sempre penso muito no meu filho quando se trata disso. Acho que, se a vida dele estivesse em perigo, eu não hesitaria em lutar, mas em outras circunstâncias, talvez eu ficasse mais reticente.
Minhas considerações finais sobre esse livro são as melhores possíveis, com toda certeza. Um livro que eu não leria de outra forma, então estou mais uma vez derramando minha gratidão ao clube do guaxinim viajante por escolherem títulos diferentes e que me encantam de maneiras que eu nem sabia serem possíveis. O autor disse em um dos podcasts que ouvi sobre a obra que os planos para o Severino é continuar a série então, por favor, leiam para que a editora veja que vale a pena investir nele.
Outras quotes
"Morrer não estava nos planos de Severino."
"[...]o tipo de aconchego que dava vontade de parar tudo e ler um livro na rede."
"Gostava muito era de ler,
uma capivara erudita.
Um ser único e diferente,
alguns a julgavam esquisita."
"Livros podem viver perfeitamente seguros guardados nas estantes, mas não é para isso que foram escritos."
"Até aquele dia, eu sempre gostei de todas as mulheres de uma vez só. Mas aquela foi a primeira vez que gostei de uma para sempre."
"Ele me contou que tinha outra filha. Ele falou que, assim como eu, essa filha não saiu de dentro dele, mas que isso não era nada no grande esquema das coisas."
"Havia morrido muitas mortes, mas aquela era sua única vida. Queria deitar com ela em uma rede e pensar no amanhã somente amanhã."
Encontre o livro:
Eu avaliei com: 5 estrelas
Na Amazon a nota é: 4,7
No Skoob a nota é: 4.3
Finalizo a minha indicação aqui perguntando se você já leu esse livro ou alguma outra coisa do autor, se surgiu interesse em explorar essa leitura... Vem conversar comigo, aqui ou nas redes sociais. É só procurar Lary Zorzenone ou clicar nos links abaixo.
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